quarta-feira, 30 de junho de 2010

Just breathe;

O vento gélido e insistente causava-me espantosos arrepios, meus cabelos esvoaçantes batiam em meu rosto com tanta intensidade que pareciam milhares de lâminas afiadas penetrando em minha pele.
Por mais que eu tentasse me manter calma, minhas mãos tremiam.
O desespero se alastrava em meu corpo como uma serpente maliciosa, eu não conseguia me lembrar de onde estava, ou talvez eu realmente nem soubesse.

Sentia-me estranha e impotente ali, nada à minha volta, apenas o vazio e o cheiro de derrota. Uma mistura de dor e agonia se entrelaçava em meu peito fazendo com que o choro ficasse prestes a transbordar. Faltava-me o ar.
Mas era a solidão que me matava aos poucos.

Cinicamente, envolto de todo aquele detrimento havia uma sensação de familiaridade, uma estranha familiaridade que aguçava o meu desespero, não pela sensação em si, mas por esse detrimento já fazer parte de mim...

De braços cruzados, fechei meus olhos com força, tentando lutar aos poucos contra o que me deteriorava;
fantasmas da minha mente.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Amor Jovem

Eles poderiam ficar ali pra sempre. Encarando o nada, ouvindo o silencio tilintar em seus ouvidos, era perfeito, era incrível. As mãos dadas, deitados na cama e olhando em direção ao teto, o som não existia, o mundo não existia, eram eles os principais, eram eles os únicos personagens de suas histórias de amor.

As roupas ainda estavam selvagemente espalhadas pelo chão, a porta trancada e a janela aberta, que deixa um vento gélido entrar, mas eles não se importavam, a sensação era boa. Ambos viram-se em direção ao outro e começaram a se encarar, ela sorriu, ele a beijou. Amor jovem.

Ela não se importava com os olhares tortos e os narizes torcidos das pessoas que passavam por eles na rua, fechou os olhos enquanto ele a guiava pelas calçadas, e rodopiaram por entre as pessoas apressadas pelo tempo, esbarrando em alguém aqui e em outros ali, e gargalharam, um som que os fazia sorrir mais e mais. Pois exagero é uma palavra que os apaixonados não conhecem.

Desviaram do destino que os seguia e sentaram num banco de praça, sob a sombra mal feita de uma castanheira torta e sentiram o vento bater forte contra seus corpos, e sentiram a razão da vida.

Naquele dia, o tempo não queria passar, mas eles estavam adorando isso. Conversaram durante horas, falaram sobre política e cinema, ela reclamou do cabelo, e ele a beijou. Amor jovem.

E como deveria de ser, as horas começaram a passar devagar, e sem que percebessem, por traz de algumas nuvens grossas, o sol envergonhado começou a desaparecer no céu.

O crepúsculo era lindo e proporcionava o cenário perfeito, a luz arroxeada fazia com que ela parecesse uma fotografia recém tirada, ele a encarava encantado, ela olhava para o chão envergonhada.

- Você é linda – Sussurrou enquanto a abraçava.

Ela quis rejeitar o elogio, mas permaneceu em silencio, porque seu coração mandou e sentiu borboletas no estomago. Sorriu.

E não existiam pessoas, não existia o tempo, não existia nada. Era possível sentir o coração dela batendo mais forte enquanto ele a abraçava, era possível enxergar a paixão dele quando ela o olhava. Amor jovem.

Eles sabiam que por mais verdadeiro que fosse não seria para sempre, nada é eterno no mundo real. Mas era real, definitivamente real.

Ela deitou no colo dele e encarou o céu, fatidicamente repetindo a cena inicial, e no mundo lá fora, as pessoas passavam, as folhas caiam, as vozes se dissipavam no ar. Mas não existiam pessoas, não existia o tempo, não existia nada.



sábado, 19 de junho de 2010

Conto de Victoria - One step to heaven

Há pessoas que nasceram para serem vazias ?

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Enquanto as luzes dos carros piscavam pela janela do ônibus, e as lágrimas desciam pelo meu rosto sem permissão, eu estava tentando lutar em vão contra os meus pensamentos. Naquele momento eu só queria ser ela.

Ser quem eu era, nada mais adiantava. As minhas roupas, o meu cabelo, a minha bolsa de couro, não me serviam mais… Era ela, com toda a sua simplicidade, com todos os seus defeitos, com a sua camiseta branca, que ele queria. Talvez tivesse me desejado por uma noite, ou duas, talvez quisesse minha companhia por alguns instantes, talvez por mim sentisse desejo, mas era com ela que ele queria passar o resto da vida, era por ela que ele sentia amor.

Chorei todas as lágrimas que pude, meu delineador, tão bem aplicado, escorria pelo rosto, me dando um aspecto cruel, o homem que estava ao meu lado me perguntou se eu estava me sentindo bem, menti respondendo que sim, e ambos nos calamos pelo resto da viagem.

Levantei as pressas quando percebi que quase havia passado do meu ponto de descida, apressadamente dei sinal, fazendo com que o motorista freiasse bruscamente. Apanhei minha bolsa, ajeitei o cabelo e desci, agora estaria sozinha pelo resto do caminho, apenas com meus pensamentos.

Abri a bolsa e tirei a minha vodka barata, sem cerimônias dei o meu primeiro gole e continuei minha caminhada. A imagem dele não saia da minha mente, seus olhos me encarando com sinal de desejo, suas mãos passando pela minha cintura… Desejo era tudo que eu conseguiria dele, e eu me sentiria realizada se conseguisse isso de qualquer outro homem, mas dele… Eu queria mais, eu precisava de muito mais.

Vivi intensamente o pouco tempo que passei com ele. A cada minuto o admirava mais… Por um momento cheguei a acreditar que o teria pra sempre, que ele me quereria para sempre. Sonhei como sonham as garotinhas bobas que acreditam no amor, e por um instante tive a doce ilusão de que o ‘pra sempre’ era possível, me apeguei a essa esperança como um pecador em busca de salvação. Seria isso possível para mim?

Finalmente cheguei em casa. Abri a porta e entrei, não a fechei novamente, estava muito desnorteada para isso, também não acendi as luzes. Coloquei a garrafa de vodka em cima da mesa e corri para o quarto, fazendo questão de derrubar tudo que estava ao meu alcance, me joguei na cama e novamente comecei a chorar.

Eu não era nada, deixei de me sentir alguém no momento que abri mão dele pra ela. Frente a frete com ela, seus olhos me encarando de cima a baixo, eu podia ouvir os xingamentos vindos de seus pensamentos. Fechei os olhos na tentativa de segurar as lágrimas enquanto via sua silhueta desaparecer junto a dela. Engoli meu ego, calei meu egoísmo e guardei minhas palavras de baixo calão, eu simplesmente o deixei ir…

Abri mão do homem que eu amava, simplesmente por amá-lo. Logo eu que nunca havia me dado o desprazer de amar alguém, estava pressa em uma teia de miséria e sofrimento.

Não, eu não o teria. Não lutaria. Para que se arriscar em uma batalha que já está perdida? Nós seres humanos somos programados para o amor, mas eu não nasci assim, eu não preciso do afeto, não necessito do carinho, não me importo com os sentimentos. Interpretei o meu papel durante anos, não há atriz que possa me interpretar tão bem…
(….)

E enquanto o vento sopra lá fora e o meu coração é despedaçado pela dor, aproveito a solidão do meu quarto para transbordar-me em quantas lágrimas me forem precisas, amanhã minhas trevas não desaparecerão com o sol, mas manterei meu teatro.


Victoria L.

25/03/84


“One step to heaven”

quinta-feira, 17 de junho de 2010

São poucas as coisas que admiro...

São poucas as coisas que admiro. Um músico com seu instrumento, um artista e a sua arte, o fazer acontecer, a habilidade de criar!

Admiro os escritores, admiro-os com paixão, como são capazes de criar mundos em tão simples folhas de papel e cativar os leitores com seus devaneios mais profundos.

Admiro os artistas de rua, e ou outros tantos mais que estão perdidos por ai, acho comovente o que fazem, triste é não serem reconhecidos como devidamente merecem.

Admiráveis são também os músicos, pois com um simples tocar de uma corda fazem melodia, e com qualquer ruído, são capazes de criar ritmo; dos mais profundos e variados tons. É incrível!

Admiro quem tem talento, admiro aqueles que possuem a habilidade de transformar! Transformar o antigo no novo, o sujo no limpo, aos poucos transformam o mundo.

E deveríamos ser todos assim.



Gostar, eu gosto do mundo! Eu gosto de sonhar, gosto do cheiro de chuva, da fumaça do trem, do pão de queijo... Gostar, eu gosto de viajar, de cantar, de sorrir, eu gosto do choro, da sede e da alma! Gosto de gatos e cachorros, de cinema e de arte. Gostar... Eu gosto do mundo! Mas são poucas as coisas que admiro.



quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fragmento


Uma fotografia. Faltou-lhe o ar.
Saiu correndo em direção a porta, em busca de qualquer coisa a que pudesse se apoiar, o copo de água em sua mão tremia. Havia desespero em cada parte do seu corpo...

Olhou para o céu em busca de respostas, mas o silêncio contínuo constrangeu a sua alma. Não quis mais segurar a dor e transbordou em lágrimas.  O coração acelerava a cada imagem dele em sua mente, as batidas eram tão fortes que podia senti-las sem o menor esforço. Era possível ver seu coração batendo através do peito. Era possível sentir a sua fraqueza através do olhar.
26/03/10